terça-feira, 24 de março de 2015

IV- Conflito

Tenho um certo pavor de conflitos, quando eles me envolvem. Na verdade eu nunca entendi direito como isso se dá. Tem algo sadomasoquista nisso, conjugado com um lado voyerístico que ainda preciso entender melhor.

Na adolescência, quando rolavam as brigas no colégio eu corria para ver e, ao mesmo tempo, batia uma frustração quando os envolvidos eram apartados. Geralmente pelo fato de muitas vezes ter uma posição sobre a situação vista e tinha gana de ver a quem eu dava razão se dar bem. Dar razão a algo irracional, santa coerência.

Com o passar do tempo fui amadurecendo por um lado. Por outro comecei a amortizar os conflitos, talvez por inconscientemente associá-los à brigas, a algo mais forte.  Talvez pelo fato de, por mais que eu saiba que conflitos não significam necessariamente partir para uma solução violenta, há como sombra esse desejo.

Um de meus sonhos me revelou um símbolo perfeito sobre esse lado do meu psiquismo: um muro no qual era extremamente desconfortável estar em cima dele. Hoje, ao lembrar, pensei que nele havia também cacos de vidro.

Se o sonho manifesta desejo, esse muro simboliza o meu estado de ser muitas vezes e, ao mesmo tempo, um desconforto ali. A lembrança falsa do sonho pela presença dos cacos de vidro talvez representa essa violência que associo aos conflitos. E o desejo de que ela se manifeste. Quantas coisas eu gostaria de dizer e não digo, por saber que minha resposta será mais violenta que bomba de hidrogênio.

O grande porém nisso tudo é que essa bomba pode explodir dentro de mim. Ou, na pior das hipóteses, machucar por dentro, por eu tentar atravessar o muro que existe em mim mesmo.


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